quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

em mim

vida nua
enigma película
sensação de voo
impessoalidade crua

companhia do animal
de dentro, interior
campo, laranjais
e algo desconhecido
também gemido e silêncio

enfim, verão

dezembro chegou
como sempre chega
sorrateiro roubando os anos
pós primavera
de mais uma temporada
de chuvas num rio
inexistente:
sempterno outono

experiência do sensível

os cães esperam
a voz dos donos

à espreita
o cão em sombras
imagina as cãs do
afeto

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

insulto ao leitor, num tom nada sério

somos iguais eu e você
quem pensa saber entre versos
quem pensa que deu sentido a eles
somos no fundo um só
tentativa de nos conhecer
monge tibetano meditando
sobre a excitação do nada
qualquer coisa : uma agulha nos olhos
uma película narrativa
um pulo bobo de gato filhote
sem jeito de pedra, rusticidade
não há nada que o igualha:)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

flores do desinteressado

desfolharei-os,cesura, pé
ante-pé, pétala de nadas
centro da essência
mudança de posição: você
em cima, eu embaixo
como sempre: nada
sobre nada,
um gozo normal,
ante poético: falta
de poesia(ao eu
lírico ausentar por
assumir-se)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

uirapuru

pela última vez , em breve vida, convido-a
a passear, escrever com mãos nossas a
ingrata história dos caminhos
ruas sempre iguais, estradas diferentes
entre um vazio e o passo de
imaginarmo-nos sem pernas
voando em quaisquer cantos
sem pena, sem música, sem ser
tido como ave rara, solidão

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

especulação e desejo

há um resíduo de cânhamo
no corpinho das palavras
no esforço do desenho
caprichar no movimento de fazê-las
planta  fio de vôo de ave
invisível ao olhar
intocável no pensar
escritura artificial
                                                               (que reste apenas o corpo
                                    vestido de mistério e claridade)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

iinfância

     aleluii-
     asas transparente(ss)
     prima chuva vera

sábado, 29 de outubro de 2011

cansaço primaveriil

     sentados agora
     para  discutirmos ágora
     qual o sentido (ii)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

raicái

    no horizontii
    um monte de pirilampos
    luz apaga(da)

domingo, 9 de outubro de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Plenavera (quando os pássaros assoviam)

E a criança aconselha-se com as flores:
Poema lido na primavera
Antecipa e retarda sempre
A idéia de verão ontem
Ninguém pode morrer que a flor não deixa...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Estiagem primaveril

            Inferno  é seco aqui é seco
            No inferno não se tem pomba aqui
            tem vôo de pomba e bem-te-vi, filhote
            sem vôo, filhote de bem-te-vi
  tem algo de infernal

 Quando a chuva não vem
 as flores desafiam os deuses
 (quase isso: somente confundem
 estação com a secura dos corpos)

domingo, 18 de setembro de 2011

quase verão

      amarelo perto
      feche lentamente
      os olhos quaisquer
      mal me quer bem me
      quer bem me quer bem

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

vera

    obra prima não existe
    há somente a primavera
    e ainda um verão por vir
    e um ainda existir
    a beleza e não a verdade

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

primavera `a vista

            bela, áspera, intratável
            a flor do cacto cai
            rusticidade fulgaz
            terra, água, cultivar

            esterco bom é o de mula
            a terra talvez seja esta
            água benvinda de chuva
            falta amarelo chegar

sábado, 10 de setembro de 2011

música para a flor nascer

                  um acorde em mi
                  (m)

contingência

            não mais me deito nessa cama
            nunca comerei nessa mesa
            esse espelho não me pertence
            estante, não mais tê-las, sim
            esse jardim ainda é meu
            plenilúneo da primavera:
            a flor insiste em não nascer        

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

altar

            sinto, queimei o manu
            drummond,fiz o mesmo, acho
            não falta mais ninguém, acho
            à contingência agora oro

domingo, 4 de setembro de 2011

o óbvio


Aceita as suas próprias mãos
As dobradiças enferrujaram-se
Já foi o tempo da bela escrita e do beijo
Deixa-as sobre os joelhos
A paisagem continua bela, sólida
Você ainda tem a ilusão dela
e o brilho da energia
Sente a força viva da quilha do peito
sustentando o arco das costelas
(como nos pássaros)
Sorve o seu próprio sangue com a saliva
e aceita de uma vez por todas
a existência do velho
            

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

flor arredia


não mais lerei poesia lerei talvez algum dia a flor
em seu movimento esguio quase capricho charme
de florescer-se a cada segundo instante mudar-se
em belezas leves e velozes e quase sempre im-
perceptíveis

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

quase primavera

                 só, nu,
                 paraíso
                 não ouço
                 as lamúrias
                 dos deuses

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

verão


haverá o dia em que amor não teremos
nem resíduo, história, poema,lembrança
nem memória, abraço, carinho, água
somente o arrependimento das pedras

sábado, 27 de agosto de 2011

papéis avulsos

   1
   the old woman
   walked into the nude corridor
   and locked herself behind the fence
   she talks to the roses
   and the world out here sounds so rude
   i wonder about lonely umbrellas

   2
   está?
   pensa?
   soube há um tempo:
   velhinhos trinken sehr gern
   kafee mit sahne
   janelas, cortinas brancas
   e vasos com flores coloridas,
   a fala e as mãos nordestinas
   enfim, um não gozo
   à bordo do abismo
   (as pupilas, dois bicos jovens e inofensivos,
    eram a sua verdade)

   3
   ando perdendo beleza longe de você
   todo inverno ensaio a veste fúnebre
   mãos entrelaçadas sobre a barriga
   cujo frio queima as roses rosas
   (não basta aqui dentro estar queimando
   em fogo brando)

   4
   a boca não acompanha os olhos
   a voz retórica, enganadora
   desse papel de carta azul amarel
   continua...continua?
   (as pupilas azuis, dois bicos jovens e inofensivos
    transformam o amador em cosmético amado)

   5
   o eterno hímen
   da amizade, dos reencontros
   da visão do pássaro fugidio
   lábil como peixe de nosso lago

    6
    esse som eu não conheço
    lembro-me bem dos coices de amor
    que não vingaram

   7
   lembro-me bem do azul de um escuro claro
   ( o todo de algo genuíno):
   pupilas e um abismo navegável
   em riscos e garatujas encravados
   num barco de papel macio
   ( sinto o tempo da pera, velho gullar, por dentro)

   Ps: now, i wonder still about lonely umbrellas

assunto

     gosto de pentear o meu assunto
     lestos dedos desembaraçando
     fios frizz nozinhos nó cego
     circunstância para o amor sonhar

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

algo concreto

        ancinho lentamente limpando
        as folhas vindouro de adubo
        bom para minhoca terra raiz
        planta flor abelha pássaro
        passarinho inseto borboleta
        cultivo beleza contemplação
        nada exercício trabalho

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

biblioteca imaginária

                                                      01/09/2005
     fiz uma lista dos amigos que não devolveram
     os livros emprestados porei o nome de cada
     um dos criminosos na internet para que a
     justiça se encarregue de trazê-los para perto
     e distraidamente falarmos de novas leituras

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

entre sagitário e aquário

                       

ensino o cão voar mais alto além pulo quase ave mais que galinha igual a pomba
para que nas horas de solidão e medo possa se refugiar em paz nos sonhos de seu fiel dono
prefere o chão ficar deitado parece em lição de casa estudando os gestos de um 
professor que boa parte do tempo está na terra descalço entre plantas parece ensinar
a ave a enraizar-se


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

transporte coletivo

                 vou me embora
                 (para onde?)
                 lá sou amigo
                 (de quem mesmo?)


domingo, 14 de agosto de 2011

memória

      li num travesseiro rosa
      igual ao dos meus pais
      a palavra solidão

      não, não era essa a palavra
      bordada a duas mãos
      era a indefinível ninguém

      naquele tecido puído
      feito para o repouso meu
      ninguém dormia também

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

poema para deisi, vulgo miss cíclone




                                                                 ri devagar
                                                             chora depressa

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

deveria haver algum deus


    desatentos, os deuses não perceberam as mudanças
    os corpos se acorporaram as plantas se plantificaram
    tudo valia mas deveria haver algum deus arbitrário

   capaz de mudar tudo (utopia, inteligência, solidariedade)
   a ponto de não haver tempo, principalmente o final

voar com as pombas


      passada estação da chuva a pomba antípoda do seguro joão-de-barro
      põe-se em ninhos quaisquer nenhures risco permanente de não
       chocar lembrança da selvageria dos antepassados medo de onça
      : hoje aprende palavras de maritáca pássaros de gaiola reproduções
      digitais  
            

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

chuva quente em dia frio (recordar)


      lembro-me bem do dia anterior ao de reis havia um lugar pronto para exercer a
      hospitalidade não sabíamos eu amor e convidados qual seria tal local mas cantamos
      em uníssono em todas as paisagens nas quais os magos poderiam visitar nos
      intervalos de um acontecimento,no mínimo, normal, prosaico.

domingo, 7 de agosto de 2011

neto do diário

       criança há de ser sempre:
       o mundo acabou de novo e o cansaço de reconstruí-lo compartilho
       a cada nova palavra pronunciada como oração para que ele termine de novo
       e eu tenha de fazer dele um hábito de ação ou crença

       em última instância fazer dele um dos temas interiores entre o alimento a
       água e o esquecimento


lendo qualquer coisa no interior

discursos oficiais são lidos pelas crianças interioranas não desconhecem sequer o 
direito de olhar o vago de qualquer lei verdade contingencial de um segmento de
pessoas interessadas nos bens públicos cultura têm de sobra no quintal no campo no
corte de qualquer escolha doméstica mas preferem outras palavras ainda não 
previstas pelas atuais convenções


sábado, 6 de agosto de 2011

ainda silêncio, no cemitério da vila alice

   o verão por terminar e não consigo dar-lhe o mínimo de sentido
   somente o silêncio de um cemiteriozinho sem transcendência
   perdido numa estradinha somente uma inscrição na ruína
   nascido em morto em não importa a data simplesmente
   não existe somente um campo pequeno pedaço de terra
   no qual planto o velho cão para o repouso merecido
   de asas ainda por vir

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

o silêncio, no cemitério da vila alice

       gosto muito de poesia e de suas ilusões de afeto mas se todos transportados
para o cemitério da vila alice, morto em 1949, agora não conseguiriam sentir nada
de vida em árvores plantadas sobre o repouso de gente se viva que guarda uma ú-
nica inscrição nascido em 1932 morto em 1934
       não a cana mas a vontade humana dela faz aquele solo sagrado de corpos
ser mero adubo inexistente alguns índices de devoção invisível terrinha rodízio de
amendoim soja cana cana cana cana e voluptuosidade de minhocas e um tatu fu-
gindo da morte num buraco bem construído
       gosto de poesia e de suas ilusões mas o desejo pleno da existência faz do
elegíaco um lugar incômodo para dizer o natural o espontâneo da verdade de ar
vores que resistiram mentirosamente resistiram ao poder hiperrealista das má-
quinas: aqui repousam

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ler como poeta

      é fácil meu amigo ser da dimensão inscrita nos joguinhos virtuais
      poema  ficção draminhas cotidianos vagarosidade lentidão acurada
      leitura de cada palavra de cada silêncio de cada gesto de todo ritmo
      irritado

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

a joão-de-barro, um pássaro insubstituível

desde quando soube pássaro joão-de-barro tornou-se  abrigo concreto
não deu patavinas nenhuma para a idéia da contingência dos ninhos
construiu-se ave discreta sem hit-parade sem cânone sem miss canto
transforma-se eventualmente em perspectiva de um olhar andante
cuja rapidez desconhece seus passos seu canto discreto seu repouso

terça-feira, 2 de agosto de 2011

a renovação das flores

            primavera se foi dezembro também lá ficaram corolas murchas cores e odores
preservados na lembrança das palavras esquecimento estações genética e jardim só
não ficaram os corpos na relva orvalho matutino de quem conseguira enfim chegar a
setembro

            janeiro se mostra menino mimado chora cospe em seus passantes sua possível
claridade de ano novo não mata mas cobre as flores com uma nova vida já em vida
quase promessa de eterno renascer de camadas sobre camadas de pedra excremento
plástico

            para o olhar verão é futuro para mim primavera mal resolvida crepúsculo
mesmo de inverno para mim só haveria flores em abril e maio no resto dos dias só
damas da noite cheiro de uma flor que se esconde no escuro no mato vizinho do
olfato.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

verão, ontem


            por vila cajado ex-tijuco preto passa o corguinho biella
            que não mais existe nenhum rastro de existência
            líquida primordial mas ali perto passa um veiozinho
            do são pedro rio mais frio de itápolis  sp dizem que
            por lá nas primeiras décadas do século 20 reis
            o ricardo se inspirava em sua passagem secreta
            pelo quente interior paulista são pedro ainda
            não é o são lourenço paredão que já foi energia
            inteligência exercida em engenharia hoje o
            querubim córrego dos lebistes peixe infantil
            ainda não conhecia o são lourenço muito menos
            o são pedro o inexistente biella e o frio rio do
            reis hoje o querubim está na cidade onde chuvinha
            fina me faz esquecer se ouvi um peixe-frito, passarinho