sexta-feira, 5 de agosto de 2011

o silêncio, no cemitério da vila alice

       gosto muito de poesia e de suas ilusões de afeto mas se todos transportados
para o cemitério da vila alice, morto em 1949, agora não conseguiriam sentir nada
de vida em árvores plantadas sobre o repouso de gente se viva que guarda uma ú-
nica inscrição nascido em 1932 morto em 1934
       não a cana mas a vontade humana dela faz aquele solo sagrado de corpos
ser mero adubo inexistente alguns índices de devoção invisível terrinha rodízio de
amendoim soja cana cana cana cana e voluptuosidade de minhocas e um tatu fu-
gindo da morte num buraco bem construído
       gosto de poesia e de suas ilusões mas o desejo pleno da existência faz do
elegíaco um lugar incômodo para dizer o natural o espontâneo da verdade de ar
vores que resistiram mentirosamente resistiram ao poder hiperrealista das má-
quinas: aqui repousam

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