sábado, 25 de fevereiro de 2012

Rascunho para um retrato de criança, de Marcos Siscar, em Interior via satélite

era um vento soprando (poeira na rua)
cavalos cansados cachorros baldios
a criança na cama de olhos abertos (a vida era um)
cheiro de fumaça no rebojo da manhã
irmãos bulindo mães lavando
paredes caiadas os dias muito longos (privação
de corte) um olhar (ao lado esquerdo da imagem)
vigiando a poeira em suspensão
o poema ainda não estava ali (ou melhor) faltava-lhe a cesura
a repetição esfregando a face áspera
a telescopia de um rosto encardido
o enjambement inserindo o silêncio e (depois
de perdido para sempre o mot juste) o dês
ajuste (quem sabe)
(SISCAR, 2010, p.71)

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